Apresentação

Em tempos catastróficos, de perdas materiais e imateriais, em que o retrocesso teima em avançar, a arte resiste como ferramenta de (re) invenção, experimentação e risco, quebrando e reconstruindo janelas, na busca da possibilidade de criar mundos outros. 

Buscamos a vastidão que rompe janelas de distância entre o real ficcionado contemporâneo, rumo às telas heterotópicas de modos de vida organizados pelo bem viver, o que versa da capacidade imaginativa e criativa que gestamos enquanto grupos humanos margeados na diversidade e na desigualdade.  Relacionado que está com o espaço ao redor, através de imagens e narrativas que desvelam nosso isolamento social, político e afetivo nesse Brasil pandêmico. 

O corpo utópico da V JANELA QUEBRADA  propõe apresentar produções de invenção e risco que se relacionam com o contexto presente, de ascensão fascista no governo brasileiro e seu projeto necropolítico, catalisado pela pandemia viral, negacionismo anticientífico e ausência de luto coletivo, apesar de uma mortalidade jamais presenciada em tal escala. Como contraponto singular a V JANELA QUEBRADA insiste na afirmação de  outros mundos possíveis, da  autonomia, da subversão, da criação de formas de reação. 

Alimentar a caosmose, onde o obsceno se faz mise-en-scene em reterritorialização e agenciamento dos desejos. Fazer, desfazer e refazer narrativas que mobilizem os corpos utópicos. Constelando metáforas em busca de uma plasticidade radical. Memento Mori. Obras que desvelam o luto, a ira, a resistência, a cura.

Trajetória

A mostra JANELA QUEBRADA – cinema de invenção e risco surgiu em 2016 em João Pessoa e foi concebida dentro do ambiente acadêmico (CCTA/UFPB), a partir das discussões e trocas entre alunos e professores dos cursos de cinema e radialismo interessados em dar visibilidade a produção de cinema experimental produzido no Estado da Paraíba.

A partir de uma convocatória lançada pelas redes sociais em busca de realizadores que tivessem obras em consonância com a proposta de cinema experimental, verificou-se uma grande quantidade de filmes realizados que não encontram espaços de exibição nos circuitos mais tradicionais. A mostra ocorreu no período de dois dias e para além das exibições dos filmes no Cine Aruanda, também promoveu exposição de artes visuais na galeria de artes da UFPB, a Lavanderia, e abriu espaço para performances musicais e obras processuais que se fazem na relação entre o campo das artes e das tecnologias, como vídeo mapping, projeções sobre corpos e experimentos sonoros.

A participação entusiasmada dos artistas e do público presente, estimado em torno de 300 pessoas nas diversas sessões promovidas pela Mostra, foi o combustível necessário para a continuidade e ampliação do projeto. Nas três edições seguintes (entre 2016 e 2017), a Mostra se tornou um lugar de encontro entre artistas de diversas linguagens que atuam na Paraíba, potencializando parcerias criativas e formando um público cada vez mais interessado nas intersecções entre arte e tecnologia e no vasto campo dos experimentalismos nas artes. Artistas como Chico Correa, Totonho, Chico Dantas, DMG, Rieg, Aurora Caballero, Flávio Metralha e tantos outros, passaram pela Mostra e compartilharam os seus processos artísticos.

Através do mapeamento de outros eventos no Brasil que atuam nesse campo do cinema experimental e cinema expandido com outras artes, a mostra também acolheu obras de diversas cenas culturais brasileiras, ampliando os diálogos estéticos e as articulações políticas entre os artistas que se formam nesse percurso inconstante em busca da inventividade e das infinitas possibilidades experimentais do cinema em diálogo com as outras artes.

O V JANELA QUEBRADA – cinema e outras artes de invenção e risco convidou criadores de todo o Brasil para inscrições de filmes digitais experimentais, documentais, ensaísticos, vídeo performáticos, experimentos sonoros, fotográficos, microfilmes, performances musicais e obras processuais que tangenciam os campos das artes e biotecnologias – em qualquer formato, realizados entre 2018 e o momento da inscrição, para exibição/projeção em meio digital (site da mostra).

Curtas, médias, microvídeos, formatos livres, categorias diversas, variados gêneros.

A mostra é composta de ilhas heterotópicas que apresentam trabalhos inscritos e convidados, experimentos sonoros, oficina e mesas de debate. Todas as obras estão expostas neste site da mostra.